
As gargalhadas das meninas
Despertaram-me durante o trajeto
Acordei aborrecida
Querendo dizer algo indigesto!
Abri os olhos, vi as meninas gargalhando
Como são lindas as meninas!
Passei o dia cantarolando!
Um dia de angustia, indignação
Com o modo em que se vive
Nesse mundo cão.
Comer para quê?
Dormir para quê?
Lazer para quê?
Amar para quê?
O que importa é trabalhar,
É isso o que importa!
Feliz ou descontente
Com dor na barriga, ou nos dentes
É isso o que importa!
O mundo não para
Assim como a máquina
Que não se cansa, não sente, não ama
Mas nós, cansamos, sentimos, amamos...
E, também, quase nunca paramos.
Cadê você pensamento?
Aonde é que você está?
Aonde é que foi parar?
Pois nesse meu tormento
Não consigo te escutar!
Eu acordo pensando em trabalhar
Pois o relógio me grita sem cessar
Pra minha labuta começar.
E marchando com os outros
Vou trabalhar
Apertada nos trens a estourar
Sacolejar, sacolejar.
E de dia não é outra a rotina
Esticar, costurar, cortar, limpar
Lavar com água e sabão
Lustrar chão.
E o relógio de novo a apitar
Já está na hora de almoçar
Engulo a comida sem degustar
Abastecer, manutenção, meu irmão!
Novamente o carrasco a se esgoelar
Esticar, costurar, ensaboar
Meu corpo entorpece
E eu não consigo
Meus pensamentos escutar.
Cadê você pensamento?
Aonde é que você está?
Aonde é que foi parar?
Pois nesse meu tormento
Eu não consigo te escutar.
Angustiada, juro, estou
Pois sem você
Máquina sou.
Meu homem
Tem um cheiro que reconheceria em meio a tantos outros
De sua seiva não me canso de provar.
Sua pele – Casca - a reconheceria, com apenas um toque
Seu corpo – Tronco - poderia reproduzí-lo como um oleiro que molda a massa disforme
Cada músculo, cada curva...
Em seus cabelos – Cipós - me seguro com força, quando nos amamos
Seu sorriso descortina alvos ladrilhos que trilham o caminho para a felicidade
Seus olhos – Oásis - em ti bebo a água da vida.
Em seus braços – Rede - deito e durmo tranqüila.
Balanço, mas sei que não vou cair
Mas, se cair, suas mãos – Galhos - irão me segurar.
E se o tombo doer e eu chorar, suas mãos – Mágicas - tocarão uma canção para me alegrar.
O vento te trouxe – Semente - no ar
Cai em mim - Terra fértil - vem me fecundar
E com seus pés - Raízes - nosso caminho germinar.